Sílvia
Sílvia
avançou o terceiro sinal naquela noite. Não podia parar. Não podia se dar ao
luxo de parar. A qualquer minuto poderia ser tarde demais. Não, não chovia –
seria clichê demais. A única tempestade acontecia em seu espírito atordoado. A
noite era limpa e pura. Quase pura demais. Também não chorava, Sílvia... Trazia
os olhos vermelhos, mas secos, totalmente secos, e vidrados na estrada, como se
conseguisse ver muito além dela. Eram 21h quando chegou à porta do prédio. Tocou
a campainha e aguardou... em vão. Tocou novamente, forte, até seus dedos
doerem, como se da campainha do apartamento 302 fosse jorrar, subitamente, uma
segunda chance. Mas, na vida, nunca é tão fácil. Tentou ainda uma terceira vez,
em tom de despedida, mas a realidade já a havia tomado de tal forma, que,
desiludida, parecia que ela e tudo aquilo iriam finalmente transbordar, na
forma degradante e incompleta de um longo, longo choro...
Mas o choro não veio. Sentou-se no
chão – invisível, inexistente, como o fantasma da mulher que fora um dia; um
velho daguerreótipo gravado na calçada com a luz prata da lua e aguardando para
ser apagada pelo primeiro suspiro do dia. Até que, de repente, uma voz acaricia
os seus ouvidos: “Esperando alguém?” Imediatamente, seus olhos se encheram de
lágrimas...