sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Minha tristeza

Algumas pessoas lêem meus poemas e me perguntam: "Nossa, está tudo bem?"; "Por que tanta tristeza?". Outros ainda tem a gentileza irritante de dizer, com aquela sacudidela fastidiosa de cabeça: "vai ficar tudo bem...". Gostaria de esclarecer que, apesar de já ter tido, sim, como todo mundo, uma fase down, estou muito bem e feliz, obrigado. Como muito bem disse Pessoa, "O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente. /
E os que lêem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, / Não as duas que ele teve, / Mas só a que eles não têm.". Para exemplificar, deixo este poema, que escrevi há mais ou menos três anos, e que se chama "Minha tristeza":


A minha tristeza é só
é só minha
é a sominha mesquinha
das pequenas e grandes desilusões
da minha vida
é a agulha e a linha
que costuram
a minha poesia
a minha tristeza é só
é sozinha
é pó
é poesia...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Poema para nunca ser lido

No que me transformaram?
Sou só um velho clichê aposentado
no fundo de uma gaveta
Um projeto abandonado de mim mesmo
O primeiro verso inacabado
de uma epopéia moderna

Sou os olhos e os ouvidos
das ruínas de um monumento grego
olvidado

um canivete suíço enferrujado
a possível evolução
de uma espécie há muito em extinção
sou só um velho poeta
interditado
resmungando pelas ruas brancas e nuas
de uma cidade imaginária
que previsível e pateticamente
resolvi chamar:
Parnaso