segunda-feira, 17 de junho de 2013

Carta ao Coronel




Carta ao Coronel

Do velho eu
Só sobrevive o velho
Definhando
Pelos cantos
Da folha em branco...

01/09/2009

terça-feira, 12 de março de 2013

Sílvia



Sílvia
                Sílvia avançou o terceiro sinal naquela noite. Não podia parar. Não podia se dar ao luxo de parar. A qualquer minuto poderia ser tarde demais. Não, não chovia – seria clichê demais. A única tempestade acontecia em seu espírito atordoado. A noite era limpa e pura. Quase pura demais. Também não chorava, Sílvia... Trazia os olhos vermelhos, mas secos, totalmente secos, e vidrados na estrada, como se conseguisse ver muito além dela. Eram 21h quando chegou à porta do prédio. Tocou a campainha e aguardou... em vão. Tocou novamente, forte, até seus dedos doerem, como se da campainha do apartamento 302 fosse jorrar, subitamente, uma segunda chance. Mas, na vida, nunca é tão fácil. Tentou ainda uma terceira vez, em tom de despedida, mas a realidade já a havia tomado de tal forma, que, desiludida, parecia que ela e tudo aquilo iriam finalmente transbordar, na forma degradante e incompleta de um longo, longo choro...

Mas o choro não veio. Sentou-se no chão – invisível, inexistente, como o fantasma da mulher que fora um dia; um velho daguerreótipo gravado na calçada com a luz prata da lua e aguardando para ser apagada pelo primeiro suspiro do dia. Até que, de repente, uma voz acaricia os seus ouvidos: “Esperando alguém?” Imediatamente, seus olhos se encheram de lágrimas...

sábado, 24 de novembro de 2012

Mitologias de Botequim

Aqueles poucos que acompanharam os posts deste blog, tão abandonado, é verdade, sabem do tom etílico que muitas vezes o meu texto assume. Cá estou eu, às duas - duas, não, três da manhã -, após retornar de um casamento (Parabéns, Iza e Hélcio!!!), postando este texto cheirando a cachaça (o texto, pessoal, não eu). Salut!

Mitologias de botequim


Copos ordenados por classe
Dezenas de corpos ao balcão
Um sangue a cada gole
Um ano a cada noite
Milhares, milhões de vozes
Sufocadas ao som de gim
E cachaça barata
A escorrer pelas gargantas cortadas
Uma festa microbiológica
Um festim de párias parricidas
A vomitar verborrágicos o vermicida
Que se convencionou chamar verdade...

...

(06.07.2007)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Homenagem a Rachmaninoff


Prelúdio em C#m

Queria escrever como se faz música,
como um Rachmaninoff inspirado
Sentir as palavras, as letras, mesmo sem sentido
como pura emoção fluindo
destes dedos cansados
sobre o teclado

Queria fazer vibrar em seus ouvidos
a canção mais triste e enraivecida
que pudesse tirar de dentro de mim

E soar
simplesmente
Como o Prelúdio em Dó Sustenido Menor

do poeta Rachmaninoff...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Florbela

Hoje publico um texto que escrevi há cinco anos, em homenagem à magnífica Florbela Espanca. Espero que gostem. Abraços!


Florbela

Calhou entre mágoas e trabalhos
O acaso de colocar ante os meus olhos
Teus versos tristes e ricamente vários
Que apertaram minh’alma e até os ossos

Não bastasse adivinhares minha dor
Tinhas os mesmos vinte e três anos que hoje tenho
Sofreste como eu sofro o mesmo amor
E tiveste em teus amores mesmo empenho

E minhas mágoas mais leves hoje trago
Neste coração (que carrego ainda aziago)
Pois ganhei na dor companhia garantida

Que abraçando quem a vida enterrou
Com seus versos docemente acalentou
O poeta que em mim jazia já sem vida...


(15.01.2007)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Adágio

Onde estou que não me vejo?
Em que ponto desta vida eu me perdi?
Em que buraco sujo foi cair
            O que restou de mim?

Será que foi sopro de vento,
Um tremor ou um leve rugir
O que me levou num rompante
Para longe
             Bem longe daqui?
 ...

Talvez um dia me encontre
Em tristes acordes
Que ainda não escrevi
Até lá vago por aí
                Insone

Às vezes, penso em fugir-me
Mas, Deus,
                 Para onde...?

XXX

Para os meus 0,5.π.√2 leitores, que achavam que eu havia desaparecido de vez, e, que, certamente, aguardavam ávidos por mais uma gota desse meu cinismo, trago mais um poema novinho em folha cheirando a mofo. E, por falar em Mofo, estive ontem neste bar na Lapa, o que não tem absolutamente nada a ver com o texto, mas como meus poemas costumam ter mais um quê de etílico do que de estilo, então, no fim, tudo está relacionado.

Sexo oral

Ninguém é tão profundo
Quanto possa parecer

Ninguém é tão raso
Que não se possa penetrar

Ninguém é tão claro
Que não se possa crer

Ninguém é tão líquido
Líquido, líquido
Liquido

Louvada a luz lânguida
A nos libertar
Lívida, libidinosa,
Lírica

Ah, luxuriosa e luxuosa
Língua...