domingo, 19 de fevereiro de 2012

A história de Susan Foster

Naquele dia 5 de julho de 1983, uma menininha nascia na cidade de Nova Iorque. A cidade ainda carregava o ar peculiar das festividades do Dia da Independência quando ela emitiu seu primeiro choro. Aquela pequena criança bastante branca possuía um par de olhos castanhos muito espertos e brilhantes, que pareciam compreender tudo o que se passava a seu redor, mesmo sendo ainda um bebê que mal acabara de chegar ao mundo. Seu olhar penetrante contrastava com sua frágil e pálida aparência. Como uma criança podia ter tamanha profundidade no olhar era algo chocante. A verdade é que Susan não era uma criança comum. Aqueles que não presenciaram seu primeiro choro – que soara mais como um pequeno berro de insatisfação – diriam que ela era incapaz de chorar. Um ar de profunda seriedade emanava de cada fio de cabelo de seu pequeno corpo. Seu pai, John Foster, dizia que ela nascera com um espírito velho. Sua mãe, que – era um fato – não a queria, via tudo como mais uma prova de que aquela criança não era normal.

Mary Foster havia sido uma criança rica e mimada em seu tempo. Contudo, sua família perdera tudo e, com isso, ela parecia ter perdido também parte de sua sanidade. Apesar de sua personalidade problemática, John se apaixonara por ela e eles se casaram, meses após se encontrarem pela primeira vez. Quando John a conheceu, Mary estava em uma fase em que se portava avessa a toda e qualquer religião, proferindo as maiores barbaridades e heresias que conseguia pescar das garrafas de bebida que começou a ingerir com notável voracidade, logo no primeiro ano de casamento, como se de uma das garrafas fosse brotar alguma solução para sua vida. A situação foi piorando até chegar a um ponto insuportável. Precisou ser internada, mesmo contra a sua vontade. Com a ajuda do marido e da clínica de reabilitação, conseguiu largar a bebida e entrou para uma igreja protestante. Tudo parecia ter melhorado e o marido começou a ver saída para um casamento que fora um fiasco desde o início. Com o tempo, Mary sentira vontade, pela primeira vez, de formar uma família. Mais do que vontade – um chamado, um dever como mulher cristã. Precisava de um filho e, então, engravidou. Mas o fato é que, quando descobriu que teria uma menina, o sentimento de Mary mudou. Dizia que havia algo errado, que aquela criança estava errada. Chorava e gritava todos os dias e foi preciso muita paciência para que John suportasse até o fim. Já não via aquela mulher como sua esposa. Não suportaria viver mais uma crise como aquela. Estava enlouquecendo, mas, de alguma forma, sentia-se preso a ela por algum laço incompreendível, algo como um senso de dever, que aos poucos cessara de fazer sentido. O fato é que ele já não era o marido dela de verdade: vivia mais como o pai de uma criança muito doente. E, em meio a tudo isso, nasceu Susan, a pequena criança de olhos perfurantes.


Continua...

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